Álvaro Fausto Taruma writes exquisitely intricate poems that force the reader into contact with the unexpected around them. Like the three poems here, much of Taruma’s poetry consists of prose poems, characterized by long sentences that drag the reader downward through a tangled web of imagery. Each poem wrestles with a wide variety of tensions that capture the personal and the intimate. The poems collected here reflect the speaker’s encounter with the written word, a common theme in much of Taruma’s poetry. “The book” is a point of contact between inner consciousness and the exterior world, a combination that combusts like the fires that appear frequently throughout these works. I am always struck by Taruma’s ability to ground his surreal images in the physical, creating powerful associations between body, environment, and the word that interrogate the borders between all three. — Grant Schutzman
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After the Storm
Everything is so perfectly clear, there are no more secrets, the birds settle in their place and the nights find shelter beneath the deserts. Out of your eye, a small stone softly rolls. With it, you can construct an island or erect an afternoon. You can melt it into quartz, into fields of ocean or wheat and crown the countryside in blue.
Your fingers lose themselves in a honeycomb of books, a wind fastens the city from inside its windows. I mean bedrooms, barracks, and bands. I mean fish as vibrant as music. I mean animals with mouths full of words. I mean a premeditated insanity, a body at the center of the storm.
After all, everything is circumscribed to water, all bound to this liquid harmony: a hand lowers its weight in August to gather blackberries as one steals integrity from a flame. We are alive, the hand not so much, the tide, the rivers, the dunes, everything has lost its charm: and the elfess is no longer a tall tale, true?
Depois Da Tempestade
Tudo é tão nítido e claro, não há segredos, as aves dispõem-se no seu lugar e as noites se abrigam por trás dos desertos. Dos olhos rola uma pequenina pedra, discreta. Podes com ela construir a ilha ou erguer a tarde. Podes fundi-la ao quartzo, aos teus campos marinhos ou de trigo para que se coroe de azul a paisagem.
Os dedos perdem-se numa colmeia de livros, um vento fixa por dentro das janelas a cidade. Eu falo de quartos, quartéis, quartetos. Falo de peixes vivos como música. Falo de animais com boca e palavras. Falo de uma loucura premeditada, de um corpo no centro da tempestade.
Afinal, tudo está circunscrito às águas, tudo à esta líquida harmonia: uma mão desce o seu peso em Agosto para colher as amoras como quem rouba do fogo a hombridade. Estamos vivos, a mão nem tanto, a maré, os rios, as dunas, tudo perde o seu encanto: a elfa já não é um mito, minto?
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Daily Routine
I know I’ve read this somewhere: I’ve never seen a chair complain about legs, we sit, we stand, we breathe in the stones’ dust, we lighten the the days’ burden or put the words’ weight to rest, I’ve never seen a bed complain about backs. We wake up and the shelves say ‘good morning’; and yet here they are all lined up, the banned books, the manuals on striking and subversion (the open esoterism of this imponderable gesture). We burn ourselves on the smallest of flames, I’ve never seen a pot drown in a fire. The lampshade holds up its nocturnal light, ready to reveal the movement of our arms; so silent about the exhaustion in his movements, sat solid and still astride his animal docility, man, in this country; no more than a cheap utensil.
Os Dias Repetidos
Presumo ter visto algures escrito: nunca vi uma cadeira reclamar das pernas, sentamo-nos, levantamo-nos, respiramos o pó das pedras, aligeiramos o tumulto dos dias ou adormecemos o peso das palavras, nunca vi uma cama reclamar das costas. Acordamos e as estantes dão-nos o «bom dia»; enfileirados estão, no entanto, os livros proibidos, os manuais de greve e subversão (aberto esoterismo do gesto imponderável). Tocamos na mínima chama e queimamo-nos, nunca vi uma panela soçobrar ao fogo. Do abajur que suporta a nocturna luz está por desvendar o mover dos braços; nada diz da métrica do cansaço, está duramente estático sobre sua animal passividade, o homem, neste país; não mais que pobre utensílio.
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At night you sweep the syllables beneath the tree’s burning fruit, one by one, you pile up the names of the dead as they wait inside books to be sentenced to their second arrival at the heart of cloudy days. Be careful not to ignite this sudden fire; you walk your hands across your face and the pain goes away, as do the cities and the maps with the same human gesture that one day built everything from Baghdad to Timbuktu. I pass into the book as someone opens the gate to childhood, and now muscle thunders and blood clots the brilliance of the stars; all I want is the vertical repose of birds or to trade poetry for sleep and I would have the most consensual of deaths.
De noite varres as sílabas para baixo do fruto aceso da árvore, um a um, amontoas os nomes dos mortos que aguardam no interior dos livros a sentença de uma segunda vinda ao coração dos dias nebulosos. Tem cuidado que não deflagre o incêndio repentino; passeias as mãos no rosto e a dor se apaga, e também as cidades e os mapas com o mesmo humano gesto que um dia edificou desde Baghdad a Tombuctu. Eu entro no livro como quem abre o portão à infância, atordoam agora os músculos e o sangue coalha a luminescência dos astros; não quero senão o vertical repouso das aves ou trocassem-me a poesia pelo sono e teria a morte mais consentida.